Ex-diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e um dos mais importantes e prolíficos autores de livros de matemática do país, com 40 títulos publicados, o alagoano Elon Lages Lima morreu na manhã do último domingo, aos 87 anos. Ele recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas, da Câmara Brasileira do Livro. Também foi mentor de jovens matemáticos de destaque no país, como o ganhador da Medalha Fields Artur Avila, além de Carlos Gustavo Moreira, também do Impa, Ralph Teixeira, da UFF, e Nicolau Saldanha, da PUC-Rio, entre outros.

— Eu era aluno de graduação, em Portugal, quando ouvi falar de Elon pela primeira vez, por meio de seus livros. Ninguém, nos dois países, contribuiu como ele para a criação de uma literatura matemática em língua portuguesa — afirma o diretor-geral do Impa, Marcelo Viana.

Para o ex-diretor do Impa Jacob Palis, Elon “foi um excelente matemático, escritor e didata”.

— Ele deu uma contribuição muito grande ao Impa, desde o início, integrando um grupo pequeno e de alta qualidade.

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1963, Elon Lages Lima foi diretor do Impa entre 1969 e 1971; de 1979 a 1980; e de 1989 a 1993, além de presidente da Sociedade Brasileira de Matemática de 1973 a 1975 e integrante do Conselho Nacional de Educação e do Conselho Superior da Faperj. Ele recebeu, ainda, a Ordem do Mérito Científico na Classe Grã-Cruz, da Presidência da República, e o Prêmio Anísio Teixeira, do Ministério da Educação.

A formação inicial do matemático foi no Ceará. Ao chegar ao Rio, Elon presenciou a fundação do Impa, por Leopoldo Nachbin e Maurício Matos Peixoto. Obteve os graus de mestrado e doutorado na prestigiosa Universidade de Chicago, onde se especializou em Topologia Algébrica, entre 1954 e 1958, e recebeu o Prêmio Edna M. Allen.

Após voltar ao Brasil, Elon se tornou pesquisador do Impa. Com uma bolsa Guggenheim, esteve em Princeton e Columbia e foi influenciado pelo americano Stephen Smale, ganhador da medalha Fields — abrindo caminho, inclusive, para que outros pesquisadores do Impa, como Jacob Palis e César Camacho, fossem orientados por Smale, hoje pesquisador honorário do Impa. Elon foi professor da UnB, de onde pediu demissão em 1965, após o início do regime militar.

FORMAÇÃO E DIVULGAÇÃO

Além de pesquisador de alto nível, Elon sempre compreendeu a importância da divulgação da Matemática e da formação de professores, áreas em que desempenhou um papel de protagonista nacional. Colaborou para estruturar os cursos de licenciatura, bacharelado e pós-graduação da Universidade Federal do Ceará, de onde recebeu, em 1989, o título de Professor Honoris Causa. Ele também era doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Alagoas.

Elon idealizou e dirigiu as coleções “Projeto Euclides” e “Coleção Matemática Universitária” e foi o criador, em 1990, do PAPMEM (Programa de Formação e Aperfeiçoamento de Professores do Ensino Médio), que continua ativo e já beneficiou mais de 20 mil professores do país. Talvez porque tenha sido justamente na educação básica o início de sua brilhante trajetória de matemático, como professor, aos 18 anos, no Ginásio Farias Brito e no Colégio Estadual do Ceará.

O matemático era casado com Carolina Celano e tinha cinco filhas da primeira união, com Valdece.

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